Entre os dias 30 de junho e 1 de julho (sábado e domingo) o projeto CalangArte em conjunto com outros coletivos de Planaltina – Nação Hip Hop, Família Mestre D’Armas, África Tática, promoveu um dia de atividades artísticas, recreativas e educativas no Parque Sucupira, localizado ao lado da Faculdade UnB Planaltina. Durante o dia o coletivo CalangArte promoveu a Feira SolEco (Solidária e Ecológica) com moradores de Planaltina e estudantes da FUP/UnB, onde houve bazar, venda de mudas, chás e temperos, artesanatos regionais e praça de alimentação. Além da feira houve atividades de educação ambiental com as crianças presentes, em que houve pintura corporal com Urucum e confecção de placas educativas para boas práticas ambientais no parque. Os produtos desenvolvidos no curso de capacitação básica do manuseio do bambu também foram levados para recreação das crianças, onde elas brincavam, se alongavam, escalavam, pulavam. Em seguida os outros coletivos que estavam promovendo o evento fizeram batalhas de rima, de dança breaking, campeonato de basquete, premiando os vencedores e como entretenimento houve teatro e shows no final da tarde para a noite. O evento proporcionou fortes parcerias com o IBRAM – Instituto Brasília Ambiental, que administra o parque. A intenção é promover outros eventos similares e os técnicos sinalizaram interesse em construir estruturas de bambu no parque. Se há tanta riqueza por que somos pobres? Em laboratório do Terra em Cena coletivo VSLT trabalha em nova versão de peça sobre impactos da mineração no território Kalunga. O coletivo Vozes do Sertão Lutando por Transformação (VSLT), um dos grupos que fazem parte do Coletivo Terra em Cena – programa de extensão e grupo de pesquisa da UnB – esteve no final de semana de 25 e 26 de agosto em imersão para trabalho de laboratório com a peça sobre as ameaças e consequências da atividade minerária de grandes corporações em territórios de comunidades quilombolas e rurais. A estrutura narrativa da peça reflete sobre a pergunta feita pelo coro no prólogo: “Se temos tanta riqueza porque somos pobres?” O Coletivo surgiu em outubro de 2013 após oficina que o Coletivo Terra em Cena ministrou na comunidade Engenho II para o grupo Arte e Kalunga Matec e outras pessoas interessadas. Atualmente, o grupo é composto por estudantes de diversos semestres da Licenciatura em Educação do Campo da UnB, de comunidades quilombolas Kalunga de Cavalcante e Teresina de Goiás, e por adolescentes Kalungas que moram em Cavalcante e cursam o ensino médio. A peça já foi apresentada em dois seminários de Tempo Comunidade da Ledoc da UnB na região: em novembro de 2017, em Cavalcante, e em Teresina de Goiás, em maio de 2018. O laboratório consistiu na ampliação da expressão corporal do elenco, por meio do trabalho de composição de imagens cênicas articuladas à declamação de poemas, e na reconfiguração dos elos entre as cinco cenas que compõem a peça, além do prólogo e epílogo. Partimos de exercícios como a Máquina de Ritmo, do sistema do Teatro do Oprimido, para construir um trem com os corpos do elenco, por exemplo. Brincadeiras infantis como João Bobo foram utilizadas na construção de cenas: o movimento desse jogo foi assimilado para descrever em cena o movimento pendulante de uma personagem que é pressionada pela empresa minerária, de um lado, e pela comunidade contrária à retomada da mineração, por outro. O trabalho cultural em desenvolvimento pelo Movimento pela Soberania Popular na Mineração (MAM) foi de grande valor para o laboratório que fizemos. Como alguns dos integrantes do coletivo VSLT são integrantes dessa organização, trouxeram para a cena uma das canções (Dragão de Ferro) construídas pela Brigada Nacional Carlos Drummond de Andrade, no período em que esteve trabalhando em Conceição do Mato Dentro (MG), e também disponibilizaram ao grupo vários exemplares do livro Poema Mineral, coletânea de poemas organizada pelo MAM, que agrega pormas de diversos poetas que abordam a questão da mineração. Com esse material à disposição pudemos ler e selecionar poemas de Carlos Drummond de Andrade para incorporar à estrutura da peça. Também incorporamos no texto um poema Haikai, de Infinita Devi, uma poeta e atriz que reside em Cavalcante: “Sangram engrenagens! Morrem paisagens…” O trabalho com poemas nos demandou o desenvolvimento de uma linguagem corporal que pudesse dialogar com as formas do texto poético, para isso construímos frases coreográficas a partir da dinâmica do mundo do trabalho da mineração, em contraponto à frases inspiradas nas formas de animais da fauna do território ameaçado pela atividade minerária. Na noite de sábado o elenco se reuniu para assistir ao vídeo “Narrativas de Ferro” feito em parceria do MAM com a cia Estudo de Cena. Uma das integrantes do VSLT, Ana Leda, participou da construção do vídeo e pôde detalhar o método de construção do trabalho, que articula depoimentos de moradores, dados do impacto minerário na região de Conceição do Mato Dentro (MG) e no Brasil, e trabalho com teatro imagem e improvisação dos membros da oficina ministrada para construção do filme. As cenas construídas abordam o medo da comunidade com o risco de rompimento da barragem de rejeitos, tal como ocorreu na cidade vizinha de Mariana, e contaminou 800 km do rio. A nova versão da peça do VSLT, que agrega à estrutura épica da peça as linguagens da poesia, do audiovisual e da dança será apresentada no seminário de Tempo Comunidade que ocorrerá entre 21 a 23 de setembro no território Kalunga, em Cavalcante, e na sequência, no dia 24 de setembro à tarde, no campus de Planaltina da UnB, como parte da programação da III Mostra Terra em Cena e na Tela, atividade que integra as ações da Semana Universitária na FUP. Participaram do laboratório, além dos integrantes do grupo, os professores da Ledoc e integrantes do Terra em Cena Rafael Villas Bôas, Caroline Gomide e Eliene Novaes. Rafael Litvin Villas Bôas Coordenador do programa de extensão e grupo de pesquisa Terra em Cena Curso de Extensão em Socioeducação e Desenvolvimento Humano Este mês a Faculdade UnB Planaltina deu início a mais uma iniciativa no campo da socioeducação, o Curso de Extensão em Socioeducação e Desenvolvimento Humano. A proposta do curso foi concebida coletivamente por professores e estudantes da FUP juntamente com os profissionais da Unidade de Semiliberdade Feminina do Guará, vinculada à Secretaria de Estado de Políticas para Crianças, Adolescentes e Juventude do DF (SECriança). Mobilizados por questões do cotidiano de trabalho e das relações interpessoais, os servidores da semiliberdade buscaram parceria com a universidade com a intenção de constituir um espaço qualificado de escuta e, ao mesmo tempo, um espaço sistematizado de estudo, aprendizagem e construção coletiva de práticas de trabalho que promovam o desenvolvimento das adolescentes em cumprimento da medida socioeducativa. Buscando fomentar a relação universidade-sociedade a partir de uma perspectiva mutuamente transformadora, essa iniciativa extensionista fomenta a democratização do acesso aos conhecimentos, técnicas e soluções geradas na universidade pública, ao mesmo tempo em que também contribui para o redimensionamento da função social da universidade. A convivência com a realidade social e com a prática profissional socioeducativa é caminho indispensável à construção colaborativa de alternativas e soluções que representem avanços e conquistas no campo dos direitos dos jovens autores de atos infracionais. Cynthia Bisinoto Faculdade UnB Planaltina II Seminário de Educação do Campo e Memória coletiva da Luta pela Terra Aconteceu entre os dias 06/07 e 09/07 o II Seminário de Educação do Campo e Memória coletiva da Luta pela Terra, na comunidade de Palmeirinha, município de Unaí. O evento foi produzido pela Licenciatura em Educação do Campo (LEdoC) da FUP em parceria com a Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucurí (UFVJM) e lideranças locais. Ao longo dos 4 dias do seminário, foram ouvidos depoimentos de pessoas que participaram da luta pela terra na região de Unaí desde os anos 80, com o objetivo de resgatar essa história. Também ocorreram atividades diversificadas voltadas à educação do campo, como observações astronômicas, oficina literária e oficinas de ciências. No último dia do seminário os participantes encontraram com o Caminho do Sertão (https://caminhodosertao.com.br/), projeto que propõe uma imersão sócioecoliterária no sertão mineiro através de uma travessia a pé inspirada pela obra de Guimarães Rosa. Nesse último dia os participantes puderam participar de rodas de conversa e de um pedaço da caminhada, o que contribuiu para desenvolver uma noção mais ampla do território e suas características. O evento foi uma atividade de Tempo Comunidade da LEdoC, isso é, uma das atividades formativas que o curso promove nos territórios do campo. Foi também uma das atividades do projeto de extensão Educação do Campo e Memória da Luta pela Terra no Sertão Mineiro. Para mais informações sobre o projeto procurar o prof. Nathan Pinheiro (nathancp@unb.br) ou a profa. Elizana Monteiro (elizana.monteiro@hotmail.com). Nathan Pinheiro Nos dias 02 e 03 de agosto de 2018 ocorreu no campus de Bom Jesus, da Universidade Federal do Piauí, o 1º Seminário e 1º Ciclo de Oficinas Culturais da Licenciatura em Educação do Campo (Ledoc)/CPCE: arte, direito e educação na construção da resistência camponesa. O evento teve como objetivo promover reflexões, intercâmbios e práticas acerca da arte, do direito e da educação na construção da resistência camponesa, rumo à emancipação social dos sujeitos do campo. A Educação do Campo da UnB esteve representada pela coordenadora do curso de Licenciatura em Educação do Campo, professora Eliene Novaes Rocha, também integrante do Fórum Nacional da Educação do Campo (Fonec), pela professora egressa da Ledoc Adriana Gomes, mestranda da Faculdade de Educação da UnB e pelo professor Rafael Litvin Villas Bôas, da Ledoc e coordenador de extensão da Faculdade UnB Planaltina. Na manhã do primeiro dia foram apresentados os resultados da pesquisa coordenada pelos professores Ozaías Batista e Socorro Pereira da Silva, sobre o “Perfil socioeducacional dos discentes da Educação do Campo”. A riqueza e minúcia dos dados coletados e sistematizados permitiu um diagnóstico do público discente da Ledoc/Bom Jesus, abordando questões como renda média das famílias, principais dificuldades para a permanência e conclusão do curso, relação com os movimentos sociais, etc. O questionamento sobre os dados oportunizou o debate sobre a metodologia da pesquisa, a partir do indagações sobre os critérios e focos do levantamento, aplicada à realidade dos próprios estudantes. A mesa sobre “Arte, direito, educação e política na construção da resistência camponesa: do planalto central à região do PDA Matopiba”, realizada a tarde, contou com a presença dos dois professores da UnB e do juiz Eliomar Rios da Vara Agrária de Bom Jesus-PI. Caso raro no meio judiciário brasileiro atual, o juiz demonstrou conhecer in locoas comunidades rurais do sul do Piauí, muitas vezes envolvidas em conflitos fundiários para resistir aos interesses do grande capital, que investe na estrangeirização de terras e produção em larga escala para exportação. A fala do juiz deixou claro que os empreendimentos do agronegócio produzem efeitos danosos ao meio ambiente e aterradores à população local, a partir de expedientes como grilagem e grilagem digital da terra, associados à exploração do trabalho em fazendas pecuaristas e sojeiras, à privatização da água do subsolo para irrigação e ao uso livre de agrotóxicos e demais componentes do pacote tecnológico da agricultura capitalista. A mesa destacou-se ainda por abordar o entrelaçamento entre soberania territorial, soberania alimentar e soberania cultural, articuladas à soberania nacional, enquanto demanda de construção de um projeto de nação. Tais articulações foram aprofundadas no segundo dia de evento, por meio da exposição do Sr. Carlos Humberto Campos (Cáritas Brasileira), cuja exposição foi antecedida por dois juris simulados, encenados por estudantes da Ledoc: um que abordou o tema das desigualdades de gênero no campo e outro que abordou a contradição entre os projetos de desenvolvimento do campo (capital x trabalho) evidentes, entre as chapadas e baixões, na região do Vale do Gurguéia (sul do PI). O debate contou com forte participação de estudantes e professores da UFPI e de representantes dos movimentos sociais e sindicais presentes (CPT, MST, Fetag, Cáritas, Movimento Quilombola, etc). O esforço de articular os temas do Direito, da Cultura e da Educação esteve presente também nas apresentações culturais do Coletivo Cenas Camponesas, estreando a peça “Luta Nossa, camponesa” (projeto de extensão da Ledoc/UFPI), do grupo de teatro “Improvisa Cantídio, da escola municipal de Cantídio/Comunidade Rural de Corrente dos Matões (Bom Jesus/PI), e do grupo de Maculelê da Comunidade Quilombola Brejão dos Aipins (Redenção/PI). Os dois grupos de teatro que se apresentaram, um de adolescentes de uma escola e outro de estudantes da Ledoc, abordaram dinâmicas do conflito fundiário no sul o PI: o tema da grilagem digital de terras e as consequências para a população camponesa, no caso do primeiro grupo, e as ameaças de jagunços que uma família de agricultores sofre para vender suas terras para um fazendeiro, no caso do segundo grupo. Nos dois casos o teatro tratou da questão agrária brasileira e dos conflitos fundiários a ela subjacentes, buscando dar forma estética aos problemas políticos e econômicos vivenciados pelas comunidades que vivem na fronteira agrícola de expansão do agronegócio, conhecida como Projeto de Desenvolvimento Agrária (PDA) Matopiba, por estar em área de fronteirados estados do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia. Por diferentes e criativos métodos, o seminário tratou de socializar conhecimentos em diferentes áreas, de maneira articulada, e envolvendo diferentes setores da sociedade e do Estado. Cabe destacar os concursos realizados na noite cultural, de forró, de melhor cachaça artesanal da região, de melhor doce caseiro e de melhor farinha de mandioca. Para cada atividade os concorrentes tinham que explicar a origem e o modo de produção dos produtos e os jurados tinham que elucidar ao público a razão de suas escolhas, tendo em vista os critérios previamente adotados. Além de divertida, a proposta se mostrou eficaz instrumento de propaganda da produção culinária da agricultura camponesa, dando voz aos produtores e produtoras locais. Por fim, cabe salientar que o encontro proporcionou o intercâmbio entre as experiências de extensão doscampus de Planaltina da UnB e de Bom Jesus da UFPI e desenhou possibilidades de fortalecimento do intercâmbio entre as ações das duas licenciaturas e dos dois campi, os quais possuem características semelhantes. O próximo encontro da agenda é a vinda do grupo Cenas Camponesas para se apresentar na III Mostra Terra em Cena e na Tela, organizada pelo Coletivo e programa de extensão Terra em Cena, a ser realizada nos dias 24 e 25 de setembro de 2018, durante a Semana Universitária da UnB. Eliene Novaes, Rafael Villas Bôas (professores da Ledoc/UnB), Kelci Pereira (professora da Ledoc/UFPI-Bom Jesus) e Adriana Gomes (Mestranda da FE/UnB). Programas de extensão do campus de Planaltina da UnB realizam seminário em Cavalcante promovendo apresentações e oficinas teatrais, debates e visita técnica em áreas de mineração e comunidades quilombolas Kalunga Por Rafael Litvin Villas Bôas e Caroline Siqueira Gomide * Dando sequência ao ciclo de seminários de Tempo Comunidade da Licenciatura em Educação do Campo (LEdoC) promovidos na região de Cavalcante há mais de uma década, desde a criação do curso na UnB, em 2007, ocorreu entre 21 a 24 de fevereiro de 2019 mais uma atividade da Educação do Campo do campus de Planaltina da UnB, em parceria com as associações quilombolas do território Kalunga – Epotecampo, Associação Quilombo Kalunga (AQK) e Associação Kalunga de Cavalcante. Pela segunda vez o seminário é o resultado de dois cursos em alternância, a Ledoc e a Escola de Teatro Político e Vídeo Popular do Distrito Federal (ETPVP-DF). A Escola de Teatro Político e Vídeo do Distrito Federal decidiu mudar a metodologia de funcionamento no ano de 2019. Para permitir que mais pessoas de diferentes localidades tenham a oportunidade de participar de nossos processos formativos organizamos a proposta metodológica da segunda turma de modo que o processo de oferta de atividades não demande presença constante nem pré-requisitos da pessoa ter participado de módulos anteriores para se inserir nos processos formativos da escola. Com isso conseguimos estender para Cavalcante, onde há dois grupos de teatro quilombolas Kalunga articulados ao programa de extensão e grupo de pesquisa Terra em Cena**, um dos módulos de formação da segunda turma da escola. Se forma na segunda turma quem completar duzentas horas de atividades cursadas, distribuídas em módulos, seminários, ensaios, produção de vídeos, etc. Na mesa de análise de conjuntura, o diretor do campus de Planaltina da UnB, professor Dr. Marcelo Bizerril refletiu sobre as potencialidades da alternância para democratização do acesso ao ensino superior: “As universidades têm tentado atuar no desenvolvimento local de diversas regiões do país, mas penso que são os novos campi que mais têm contribuído em ampliar as ramificações e inserções das universidades nas comunidades. No nosso caso, a alternância cria a condição da presença dos sujeitos das comunidades dentro da universidade, e amplia o impacto da ação da universidade nos territórios, no desenvolvimento local e humano.” Também presente na mesa a professora Dra. Eloísa Pilati, representando o Decanato de Ensino e Graduação (DEG) da UnB, como Coordenadora de Integração das Licenciaturas, fez um retrospecto positivo das políticas públicas desenvolvidas no ensino superior nos últimos quatorze anos: “Quero pontuar os avanços que tivemos nos últimos anos. Estou na UnB desde 1994. No curso de Letras, tínhamos só o curso de letras diurno. Depois ocorreu a ampliação para o noturno. A universidade passou por grande ampliação e democratização do acesso. Nos últimos quatorze anos tivemos as cotas, a criação dos Pólos da Universidade Aberta do Brasil (UAB), os programas de iniciação à docência, o PIBID e Residência Pedagógica. Passamos por momentos de transformação nas licenciaturas por meio de políticas públicas de renovação e de indução de transformações relevantes. Por exemplo, a questão do estágio foi melhor estruturada dentro da carga horária de formação e passou para 400h. A questão dos programas de iniciação à docência também é muito importante: o professor da UnB, o professor supervisor na escola, e os estudantes da universidade recebem bolsa, pesquisam e atuam em conjunto. Todas essas foram políticas importantes a ampliação do acesso à universidade, para a atualização dos projetos político-pedagógicos das licenciaturas e para a promoção de maior diálogo entre a universidade e a escola”. Representando o Decanato de Extensão da UnB o Diretor Técnico de Extensão, professor Dr. Alexandre Pilati avaliou que “a Extensão vive hoje um momento importante de ajudar a universidade brasileira a repensar seu papel histórico e a assumir a responsabilidade verdadeira na construção e execução de um projeto nacional soberano e popular. Eu acredito que a escola pública brasileira, por mais contraditório que seja o cenário, ainda é o terreno em que conseguimos ter a vivência de uma idéia de democracia. Não é a toa que o projeto de militarização está acontecendo com as escolas públicas, isso é o impulso de controle da potência democrática das escolas. A crise da educação do Brasil não é crise, é um projeto”. A mesa de análise de conjuntura contou também com a presença de lideranças comunitárias de associações quilombolas, muitas delas professoras e professores formados na Licenciatura em Educação do Campo da UnB, como Maria Lucia Godinho, presidente atual da Epotecampo, que relatou a ampliação da organização social no quilombo a partir das parcerias com as universidades e informou a intenção de construção de uma Escola Popular Kalunga, que possa sistematizar as demandas e articular as parcerias com as diversas universidades e institutos para que as equipes de pesquisa e extensão possam desenvolver projetos com as comunidades quilombolas Kalunga visando a preservação ambiental, o desenvolvimento econômico e o fortalecimento da organização social e cultural do território. Por decisão dos integrantes dos grupos de teatro VSLT e Arte Kalunga Matec, integrantes da comissão organizadora, decidimos realizar as apresentações teatrais em espaços abertos da cidade, e não mais no mesmo local em que estaria ocorrendo o seminário, as oficinas e os laboratórios. Desse modo, as peças do Coletivo Fuzuê foram realizadas na praça do Fórum (Experimento Confere) e na Feira do agricultor (Experimento Fuzuê), e a peça do Coletivo quilombola Vozes do Sertão Lutando por Transformação (VSLT) foi apresentada na praça Primavera, no bairro da Vila. Segundo Raiane Gonçalves – formanda na oitava turma da Licenciatura em Educação do Campo da UnB, a turma Ganga Zumba, integrante do coletivo VSLT e autora da monografia de conclusão de curso “Teatro político como luta emancipatória das comunidades tradicionais” – o público da cidade elogiou as três peças e várias pessoas começaram a procurar o VSLT interessadas em participar do grupo. Há depoimentos de pessoas que alegaram ter mudado de opinião a respeito da mineração após terem assistido a peça “Se há tanta riqueza por que somos pobres?”, conta Raiane. A peça apresenta e discute os prós e contras do modelo de exploração vigente e a conveniência de sua entrada na região. Ao final uma envolvente assembleia é realizada misturando o elenco ao público e a decisão é por rejeitar que esse modelo adentre ao território e as comunidades. De acordo com os coordenadores do VSLT Ana Leda e Carlos Conceição, organizadores do módulo em Cavalcante “o módulo em Cavalcante, foi um grande salto na formação política dos grupos de teatro, reforçando as nossas pautas. Foram muito importantes e produtivas as oficinas, as apresentações teatrais, a convivência. No módulo 2 o nosso coletivo pôde identificar com qual teatro trabalhamos, aprendemos técnicas novas para trabalho no coletivo VSLT. Nossa avaliação é que foi um espaço de muita produtividade, organização social e crescimento intelectual. Foi uma sacada muito boa os professores trabalharem a teoria, junto com os movimentos, construção de cenas, facilitando esse primeiro contato. Outro saldo positivo foi os grupos de teatros fazerem os espetáculos em espaços públicos abertos, quebrando uma parede e proporcionando que a comunidade assistisse as intervenções. Analisamos que esse foi um dos mais produtivos espaços de diálogo com a linguagem artística e pensamento dos grandes pensadores do teatro político”. No último dia da atividade foi realizada uma visita guiada em áreas de mineração que ocorrem na região. A visita teve início em frente à mineração Penery, mineradora de ouro (hoje desativada), que pertence a essa empresa desde 1998. Porém, o histórico de mineração da área remonta a 1740 quando se inicia a extração artesanal de ouro na região. A partir de 1970, a área começa a ser explorada como garimpo subterrâneo e na década de 1980, empresas privadas passam a controlar a área a partir da concessão de lavra e as galerias se aprofundam até 70 metros. Existem estudos que atestam que o minério de ouro da Mina Buraco do Ouro, nome que a área é conhecida, está associado à mineralização de prata e de elementos do grupo da platina (utilizado, principalmente, na indústria automotiva, indústria química/petroquímica, indústria joalheira, indústria do vidro, indústria de materiais odontológicos e materiais medicinais). Foi na mina Buraco do Ouro que um grupo de pesquisadores do Instituto de Geociências da Universidade de Brasília (Nilson Botelho e colaboradores) identificou um mineral de ocorrência única no mundo, que recebeu o nome de Kalungaíta. Durante a visita, foi abordado o histórico da mina, foram apresentados os principais processos que ocorrem no espaço da mineração (da extração ao beneficiamento) e a exposição dos riscos e impactos que a cidade de Cavalcante está sujeita. Também visitamos a área de estocagem e britagem do minério de manganês, explorado em áreas da mina em operação localizada em região vizinha ao território quilombola Kalunga, utilizando-se das estradas que ligam a cidade à algumas comunidades do território, degradando a estrada, como foi possível presenciar no caminho para a comunidade Engenho II. Ao final da visita, o grupo visitou a comunidade Engenho II, conheceu a cachoeira da Capivara e assistiu a uma breve apresentação da comunidade, da escola e das atividades de turismo que os moradores gerenciam na região do quilombo. Cavalcante reduz, em escala particular, as contradições da desigualdade brasileira. A despeito de ser um território rico em minérios, em recursos hídricos, em fauna e flora, tem um dos menores IDHs dos municípios brasileiros. Apesar de ser a cidade que abriga em seu distrito a maior parte dos 254 mil hectares do quilombo Kalunga, o maior do Brasil, essa memória não se reverte em presença efetiva nos postos políticos e na consciência racial da maioria da população. Todavia, essa é uma realidade que está sendo modificada de forma acelerada: no final de 2018 a cidade abrigou o primeiro encontro de estudantes universitários quilombolas, as associações comunitárias estão em nível crescente de organização e participação, a presença dos grupos comunitários de teatro, audiovisual e manifestações de cultura tradicional kalunga têm aumentado, e cresce em escala exponencial a quantidade de professores quilombolas Kalunga formados nos cursos da UnB, UFG, UFT, do IFG e da UEG. O poder público municipal, reconhecendo essa dinâmica crescente, mantém aberto o pólo da Universidade Aberta do Brasil para receber os cursos e seminários promovidos pelas universidades, o que amplia em muito as possibilidades de formação e realização de atividades diretas com as comunidades, articulando as dimensões do ensino, pesquisa e extensão no território. Planaltina, 06 de março de 2019. * Professores do campus de Planaltina da UnB. Coordenam respectivamente os programas de extensão Terra e Cena e Território Kalunga. Integrantes do Colegiado de Extensão da FUP. ** Mais informações podem ser obtidas no blog www.terraemcena.blogspot.com Caroline Gomide, Susanne Maciel e Renata Aquino O projeto tem a intenção de debater e combater a desigualdade de gênero no meio acadêmico, com ênfase nas particularidades do campo das ciências exatas e da terra e, a partir das atividades propostas, tem o objetivo de estimular meninas estudantes de ensino fundamental, médio e de graduação a estudarem ciências exatas e da terra. A atuação profissional e acadêmica na área de ciências exatas e da terra é mundialmente caracterizada por uma proporção discrepante entre mulheres e homens. De acordo com o relatório da UNESCO, apenas 30% das pesquisadoras na área de ciência e tecnologia são mulheres. No Brasil, de acordo com dados do CNPq de 2014, na área de exatas e da terra, 34% são mulheres e 66% homens. No entanto, as mulheres ocupam 51% do total de pesquisadores cadastrados no CNPq. As agendas feministas e os estudos de gênero têm revelado que a ciência e tecnologia (C&T), além de não serem neutras, estão inseridas em uma estrutura de poder e em relações de gênero, nas quais interesses e disputas influenciam nas opções de pesquisadores/as da área. Isto faz com que as mulheres que trabalham nas ciências, principalmente exatas, passem por situações de discriminação, assédio, humilhação e as mais diversas situações que o machismo estrutural da sociedade proporciona ao conjunto de mulheres, mas especialmente aquelas que “transgridem” a ordem patriarcal estão expostas a mais episódios no dia a dia. Antes mesmo de entrarem na graduação, a maioria das garotas são desencorajadas a seguir carreiras na área de exatas, como mostram os estudos da UNESCO, apesar de não haver nenhuma comprovação científica de que meninas apresentem um desempenho inferior nas exatas (Kersey, 2018). Ainda que passem pelas barreiras no ensino básico, durante a formação acadêmica os números mostram que as bolsas de estudo se tornam cada vez mais escassas para mulheres à medida que o nível de pesquisa avança no Brasil (Valentova et al., 2017). Há uma variação entre 3 a 20% de mulheres bolsistas em áreas exatas. Quando se observam os dados gerais das bolsas de produtividade do CNPq, na categoria 1D por exemplo, 35% são destinadas a mulheres e 65% a homens, à medida que o nível de produtividade avança, as bolsas são cada vez menos destinadas a mulheres, como a bolsa 1A, em que apenas 24% é destinada a mulheres (CNPq, 2014). Entendemos que para contribuir para o equilíbrio de gênero na academia, faz-se necessário romper os diversos gargalos existentes no percurso acadêmico de uma mulher. No nível da educação básica, propomos duas frentes de ação para o rompimento dessas barreiras: No âmbito da desconstrução dos mitos, propomos a elaboração de esquetes teatrais nos moldes do Teatro do Oprimido, e realização de obras em audiovisual. O debate e a construção de peças e/ou documentários fazem o enfrentamento de situações de assédio, e o Teatro do Oprimido será fundamental para a promoção de debates e reflexões no contexto escolar. Serão propostas a montagem de esquetes teatrais e/ou audiovisuais sobre situações de assédio e machismo que são comumente denunciadas neste meio, com o intuito de explicitar e discutir formas de combatê-las. O projeto também visa realizar oficinas científicas nas áreas de matemática, química, física e geociências voltadas para jovens dos anos finais do ensino fundamental e do ensino médio, com o objetivo de desmistificar a ideia sobre a existência de profissões tipicamente femininas ou masculinas, e de questionar o viés da desigualdade entre homens e mulheres nas diversas áreas de formação acadêmica. Estas atividades trarão levantamento de dados estatísticos sobre a desigualdade de gênero nas ciências, temas científicos desenvolvidos por mulheres nessas áreas e apresentação da contextualização histórica do desenvolvimento da matemática e das ciências, com ênfase nas diversas questões de gênero. As primeiras atividades de teatro do projeto aconteceram junto com o terceiro módulo da segunda turma da Escola de Teatro Político e Vídeo Popular (ETPVP) – projeto de extensão do campus de Planaltina da UnB ligado a Casa da América Latina e ao programa de extensão e grupo de pesquisa Terra em Cena (www.terraemcena.blogspot.com) – , com oficina sobre Teatro do Oprimido e feminismo e laboratório sobre a dialética no Teatro do Oprimido, com Julian Boal. Na oficina, Julian nos apresentou o trabalho da feminista francesa Muriel Maejsens, do M.L.F (do francês Movimento de Libertação das Mulheres), criadora do grupo “Feminisme en jeux” (trocadilho “feminismo em jogo”, do que está em jogo, e do que está em cena). Estudiosa das técnicas do teatro do oprimido, de Augusto Boal, Muriel percebeu que nas pautas feministas era comum que o teatro fórum muitas vezes levasse a plateia a interpretar cenas de opressão de maneira a culpabilizar a vítima. O problema observado é que em cenas que focam no indivíduo, a intervenção reproduz o discurso dominante, e esconde o fator determinante por trás, que de uma forma ampla é a estrutura patriarcal da sociedade. É possível mostrar que todo oprimido é um sujeito submisso/subversivo, e o teatro pode mostrar qual é a chave que aciona o lado submisso ou subversivo de um personagem. Em geral, é interessante que se busque nas cenas as chaves que acionam o aspecto dual submisso/subversivo. Por fim, foi mostrado como devemos estar atentas às possíveis reações da plateia e como algumas oprimidas podem incorporar as violências mostradas em sua própria vivência. No projeto, nos encontramos em reuniões periódicas (toda 1a segunda feira do mês, às 17h) que ocorrem no Laboratório de Artes, prédio Paulo Freire (FUP). Para participar entre em contato pelo e-mail meninasnacienciafup@gmail.com. Projeto CalangArte: Fim de Semana no Parque Sucupira
Intercâmbio entre Licenciaturas em Educação do Campo da UnB e do campus de Bom Jesus da UFPI fortalecem articulações entre Educação, Cultura e Direito
Início das atividades do projeto Mulheres na Ciência: desafios, mitos e resistência cotidiana
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