05 dez
Evento aconteceu nos dias 17, 18 e 19 de novembro, na Sede do Programa de Erradicação do Trabalho Infantil (PETI), em Cavalcante (GO)
O Seminário Tempo Comunidade, atividade que compõe o sistema de alternância do curso de Licenciatura em Educação do Campo (LEdoC) da Faculdade UnB Planaltina (FUP), contou com a participação da Associação Quilombo Kalunga (AQK), Associação Kalunga de Cavalcante (AKC), Associação dos estudantes da Educação do Campo (Epotecampo), Coletivo Terra em Cena (FUP/UnB), Escola de Teatro Político e Vídeo Popular do DF (ETPVP), Licenciatura em Educação do Campo da UnB (LEdoC), Coletivo Terra em Cena (FUP/UnB), Coletivo Fuzuê (UFSJ) e Movimentos pela Soberania Nacional na Mineração (MAM).
A programação do evento foi composta por apresentações culturais, debates e rodas de conversa. Entoando a cantiga ‘’Negro nagô’’, o grupo de crianças kalungas da região apresentaram a Sussa – dança tradicional dos territórios quilombolas de Goiás de origem afro-brasileira – durante a abertura do evento. Foram convidados para compor a mesa de abertura: Vilmar Souza Costa, representante da Associação Quilombo Kalunga, Eliete Ávila, representante da LEdoC, Márcio Zonta, coordenador nacional do MAM e Mariângela Gomes, vereadora de Cavalcante.
MESA-REDONDA
Abordando a temática ‘’O retorno da mineração à Cavalcante’’, a mesa de abertura discutiu os possíveis impactos nos territórios quilombolas com a expansão de projetos minerários e instalação de uma Pequena Central Hidrelétrica (PCH).
Durante sua participação no Seminário, Márcio Zonta, coordenador nacional do MAM, deu enfoque para os problemas ocasionados por projetos minerários em territórios quilombolas, como o Minas-Rio, da empresa Anglo American. ‘’Esse território (Cavalcante) é cobiçado pelos minérios presentes em seu subsolo, é uma região que não suportaria um projeto minerário. Aqui há comunidades com histórias de 300 anos’’, afirmou.
Zonta relatou também o trabalho com a cultura popular do movimento no estado de Minas Gerais. “Começamos a fazer um trabalho na comunidade de Conceição de Mato Dentro, com jovens do campo. A partir do teatro, o MAM passou a atuar de diversas formas. Com o tema ‘Juventude e Trabalho’, os jovens começaram a entender como funciona a sociedade de classes’’, disse.
Segundo Mariângela Gomes, vereadora de Cavalcante, ‘’não há projeto na câmara em relação à mineração em Cavalcante’’. Mariângela ressaltou que a agricultura do local é fraca e que a mineração é uma fonte de renda para o município. ‘’Nosso município não tem emprego, nossos jovens vão para a cidade e mesmo assim vivem mal. Nossa saída atual é o ecoturismo’’, concluiu.
Vilmar Costa elencou os anseios da comunidade diante das experiências com a exploração mineral. ‘’Não vou dizer que sou contra a mineração. Mas, ultimamente, as experiências não foram boas. Temos que ter certeza dos benefícios da mineração. Queremos educação, mais políticas públicas e nossa autogestão’’, ressaltou.
A professora Clarice Santos, da Faculdade UnB Planaltina (FUP), enfatizou a necessidade de formular um projeto de soberania popular com ‘’interesses do povo e não do capital’’. Para Rafael Villas Bôas, a soberania popular é uma conquista do movimento negro, e em conjunto com a educação popular, torna-se o meio para os processos de decisão.
A professora Caroline Gomide, da Faculdade UnB Planaltina, apresentou os impactos socioeconômicos e ambientais das atividades mineradoras no Brasil e no mundo, além de um panorama sobre os principais pólos de extração.
RODA DE CONVERSA
A professora Eliete Wolff, da Faculdade UnB Planaltina (FUP) e Nilça Fernandes, representante da Associação dos estudantes da Educação do Campo (Epotecampo), realizaram uma roda de conversa sobre a situação das escolas nos territórios quilombolas.
Para Nilça, faz-se necessário trabalhar a cultura kalunga nas escolas, materializando a questão no projeto político-pedagógico por meio da mudança na matriz curricular.
Segundo Eliete, outro ponto crítico é a precarização do trabalho docente em Goiás. Para ela, falta receptividade das escolas do estado com os estagiários de nível superior.
ATRAÇÕES CULTURAIS
Em toda extensão do evento, as atrações culturais estiveram em peso. Teatro, música e danças típicas fizeram parte da programação. A Escola de Teatro Político e Vídeo Popular de Brasília, e o grupo de teatro kalunga Vozes do Sertão lutando por Transformação, trouxeram por meio de suas apresentações a técnica do teatrólogo Augusto Boal, o Teatro do Oprimido.
Fazendo menção à conjuntura política do país, ambas exploraram situações do cotidiano por meio de técnicas como o Teatro Fórum, que visa gerar debate e reflexão entre os espectadores.
O coletivo Fuzuê, da Universidade Federal de São João Del-Rei (UFSJ), abordou por meio do teatro político, os primórdios do sistema escravocrata até os dias atuais evidenciando as diversas faces do racismo.
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