17 mar

Acontece em Brasília entre os dias 17,18 e 19 de março, dois grandes eventos com temas voltados para a questão hídrica. O Fórum Alternativo Mundial da água (FAMA) e o 8° Fórum Mundial da Água (FMA), trazem discussões sobre o mesmo tema central – a água –, no entanto, os objetivos de cada fórum divergem entre si.

O Fórum Alternativo Mundial da água (FAMA) é construído por movimentos sociais, pesquisadores, sindicatos e povos tradicionais, e tem como objetivo a busca de estratégias para a gestão e não privatização deste recurso, a fim de garantir seu acesso para todos.

O 8° Fórum Mundial da Água (FMA) é organizado pelo Conselho Mundial da Água, sendo composto por transnacionais do ramo alimentício, órgãos públicos e empresas privadas de prestação de serviços. O evento traz o tema ‘’Compartilhando água’’, e conta com a participação de instituições de ensino para a proposição de palestras e exposição de projetos.

Com intuito de ampliar os debates e promover a integração da comunidade entorno da temática, a Faculdade UnB Planaltina realizou na última sexta-feira (16), três mesas redondas e uma apresentação teatral com a participação de docentes, representantes de órgãos públicos e movimentos sociais.

Participaram da mesa de abertura o professor e organizador Ricardo Neder (FUP/UnB) e Marcelo Bizerril, diretor do campus. Ambos discursaram sobre o papel da universidade diante da atual situação hídrica do Brasil. ‘’Esse é um dos papéis da universidade: estar sempre abrindo possibilidades de discussão e apresentando todos os enfoques possíveis de forma alternativa; que foge do modo hegemônico’’, detalhou o diretor.

Dentre os assuntos tratados, Marcelo enfatizou três enfoques principais para debater a questão ambiental: a educação ambiental conservacionista, a pragmática e a crítica. Para ele, que também trabalha com educação ambiental, ‘’falar de água não é só falar de um recurso, é, sobretudo, discutir questões éticas, econômicas e sociais ligadas ao acesso da água’’. Marcelo encerrou sua participação enfatizando a importância da água e como este recurso é motivo de guerra em diversos países. ‘’A água sempre foi motivo de guerras e disputa de poder. É um tema que deve ser analisado com múltiplos olhares, e esse é um dos papéis da discussão de hoje’’, concluiu.

O professor Ricardo Neder fez uma introdução sobre ‘’Gestão das Águas’’, abordando as principais diferenças entre os dois fóruns sediados em Brasília. Segundo o docente, faz-se necessário conhecer os interessados na ‘’relação entre água e sociedade’’, tendo em vista os diferentes interesses ‘’em termos de política de utilização da água’’, destacou.

Logo em seguida, o convidado da primeira mesa redonda, o professor Henrique Chaves, da Faculdade de Tecnologia (FT/UnB), proferiu a palestra ‘’Programa Produtor de Água: a experiência de produtores rurais de Planaltina’’. O pagamento por serviços ambientais, os impactos do racionamento na região e as medidas adotadas com base no cenário atual, foram alguns dos temas levantados pelo palestrante.

A produtora rural da Associação Aprospera, Fátima Cabral, trouxe a palestra ‘’O Programa Produtor de Água na prática e a importância de práticas sustentáveis na agricultura’’. Fátima, que também é presidente da Associação, abordou a percepção dos produtores no processo de aplicação de técnicas de manejo, e os impactos para a Bacia do Pipiripau, em Planaltina.

No período da tarde, mais duas mesas compuseram as atividades. A mesa ‘’Questão hídrica mundial e nacional’’, realizada no auditório Augusto Boal, com os docentes Ricardo Neder e Lucijane Monteiro, Horácio Morais, diretor da Sindágua e Thiago Alves, membro do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), apresentou dados e informações sobre a discrepância na distribuição de água para a população no âmbito nacional e mundial, o stress hídrico atual, as falhas na aplicação de leis e falta de profissionais para as fiscalizações, dentre outros.

A última mesa, ‘’Questão hídrica regional’’, contou com a participação da professora Anete Oliveira, coordenadora do projeto ‘’Minuto Geosfera: notícias do planeta azul’’, professor Irineu Tamaio, coordenador do projeto ‘’Clima e Água’’, professor José Eloi, diretor do Instituto de Geociências da UnB, Flávio do Carmo, setor de produção do MST, e professora Caroline Gomide, mediação da mesa. Em meio as discussões sobre demanda hídrica; José Eloi apresentou mapas e análises gráficas das regiões que mais consomem água no DF. O docente também ressaltou a importância estratégica dos aquíferos em época de racionamento. Irineu Tamaio apontou as desigualdades de consumo no DF, com 4,7 litros por habitante, tornando o DF a região que mais consome litros/dia em atividades domésticas.

Encerrando as atividades, o Coletivo Semente, do Gama, apresentou a peça ‘’Macunaíma’’, inspirada no romance modernista de Mário de Andrade, escrito em 1928. Dirigida pelo professor Valdeci Moreira, da Secretaria de Educação do DF, por meio do teatro em comunidade, explicita a força das chaves alegóricas criadas por Mário de Andrade para a compreensão das contradições brasileiras: a aspiração moderna de um país arcaico marcado pela escravidão; a desfaçatez do discurso integrador da miscigenação racial, o cinismo e o caráter explorador e predatório da elite ocupante desde o período colonial até nossos dias.

 

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