02 abr
O projeto tem a intenção de debater e combater a desigualdade de gênero no meio acadêmico, com ênfase nas particularidades do campo das ciências exatas e da terra e, a partir das atividades propostas, tem o objetivo de estimular meninas estudantes de ensino fundamental, médio e de graduação a estudarem ciências exatas e da terra.
A atuação profissional e acadêmica na área de ciências exatas e da terra é mundialmente caracterizada por uma proporção discrepante entre mulheres e homens. De acordo com o relatório da UNESCO, apenas 30% das pesquisadoras na área de ciência e tecnologia são mulheres. No Brasil, de acordo com dados do CNPq de 2014, na área de exatas e da terra, 34% são mulheres e 66% homens. No entanto, as mulheres ocupam 51% do total de pesquisadores cadastrados no CNPq.
As agendas feministas e os estudos de gênero têm revelado que a ciência e tecnologia (C&T), além de não serem neutras, estão inseridas em uma estrutura de poder e em relações de gênero, nas quais interesses e disputas influenciam nas opções de pesquisadores/as da área. Isto faz com que as mulheres que trabalham nas ciências, principalmente exatas, passem por situações de discriminação, assédio, humilhação e as mais diversas situações que o machismo estrutural da sociedade proporciona ao conjunto de mulheres, mas especialmente aquelas que “transgridem” a ordem patriarcal estão expostas a mais episódios no dia a dia.
Antes mesmo de entrarem na graduação, a maioria das garotas são desencorajadas a seguir carreiras na área de exatas, como mostram os estudos da UNESCO, apesar de não haver nenhuma comprovação científica de que meninas apresentem um desempenho inferior nas exatas (Kersey, 2018). Ainda que passem pelas barreiras no ensino básico, durante a formação acadêmica os números mostram que as bolsas de estudo se tornam cada vez mais escassas para mulheres à medida que o nível de pesquisa avança no Brasil (Valentova et al., 2017). Há uma variação entre 3 a 20% de mulheres bolsistas em áreas exatas. Quando se observam os dados gerais das bolsas de produtividade do CNPq, na categoria 1D por exemplo, 35% são destinadas a mulheres e 65% a homens, à medida que o nível de produtividade avança, as bolsas são cada vez menos destinadas a mulheres, como a bolsa 1A, em que apenas 24% é destinada a mulheres (CNPq, 2014).
Entendemos que para contribuir para o equilíbrio de gênero na academia, faz-se necessário romper os diversos gargalos existentes no percurso acadêmico de uma mulher. No nível da educação básica, propomos duas frentes de ação para o rompimento dessas barreiras:
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A desconstrução do mito de que existem profissões masculinas, ou femininas;
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O resgate pelo interesse nas disciplinas das áreas de exatas por parte das meninas de ensino médio e anos finais do ensino fundamental.
No âmbito da desconstrução dos mitos, propomos a elaboração de esquetes teatrais nos moldes do Teatro do Oprimido, e realização de obras em audiovisual. O debate e a construção de peças e/ou documentários fazem o enfrentamento de situações de assédio, e o Teatro do Oprimido será fundamental para a promoção de debates e reflexões no contexto escolar.
Serão propostas a montagem de esquetes teatrais e/ou audiovisuais sobre situações de assédio e machismo que são comumente denunciadas neste meio, com o intuito de explicitar e discutir formas de combatê-las. O projeto também visa realizar oficinas científicas nas áreas de matemática, química, física e geociências voltadas para jovens dos anos finais do ensino fundamental e do ensino médio, com o objetivo de desmistificar a ideia sobre a existência de profissões tipicamente femininas ou masculinas, e de questionar o viés da desigualdade entre homens e mulheres nas diversas áreas de formação acadêmica. Estas atividades trarão levantamento de dados estatísticos sobre a desigualdade de gênero nas ciências, temas científicos desenvolvidos por mulheres nessas áreas e apresentação da contextualização histórica do desenvolvimento da matemática e das ciências, com ênfase nas diversas questões de gênero.
As primeiras atividades de teatro do projeto aconteceram junto com o terceiro módulo da segunda turma da Escola de Teatro Político e Vídeo Popular (ETPVP) – projeto de extensão do campus de Planaltina da UnB ligado a Casa da América Latina e ao programa de extensão e grupo de pesquisa Terra em Cena (www.terraemcena.blogspot.com) – , com oficina sobre Teatro do Oprimido e feminismo e laboratório sobre a dialética no Teatro do Oprimido, com Julian Boal.
Na oficina, Julian nos apresentou o trabalho da feminista francesa Muriel Maejsens, do M.L.F (do francês Movimento de Libertação das Mulheres), criadora do grupo “Feminisme en jeux” (trocadilho “feminismo em jogo”, do que está em jogo, e do que está em cena). Estudiosa das técnicas do teatro do oprimido, de Augusto Boal, Muriel percebeu que nas pautas feministas era comum que o teatro fórum muitas vezes levasse a plateia a interpretar cenas de opressão de maneira a culpabilizar a vítima.
O problema observado é que em cenas que focam no indivíduo, a intervenção reproduz o discurso dominante, e esconde o fator determinante por trás, que de uma forma ampla é a estrutura patriarcal da sociedade.
É possível mostrar que todo oprimido é um sujeito submisso/subversivo, e o teatro pode mostrar qual é a chave que aciona o lado submisso ou subversivo de um personagem. Em geral, é interessante que se busque nas cenas as chaves que acionam o aspecto dual submisso/subversivo.
Por fim, foi mostrado como devemos estar atentas às possíveis reações da plateia e como algumas oprimidas podem incorporar as violências mostradas em sua própria vivência.
No projeto, nos encontramos em reuniões periódicas (toda 1a segunda feira do mês, às 17h) que ocorrem no Laboratório de Artes, prédio Paulo Freire (FUP). Para participar entre em contato pelo e-mail meninasnacienciafup@gmail.com.
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